Geraldo Alonso. O mito.
Quantas vezes faz uma biografia justiça ao biografado?
Será mesmo possível reconstituir com mínima e satisfatória fidelidade a vida e o trabalho de um homem – sobretudo uma figura tão polêmica e multiforme como a de Geraldo Alonso?
As técnicas biográfica diferem umas das outras, mas uma coisa têm em comum: a preocupação em captar e fixar a face humana do biografado, principalmente aquela oculta sob os disfarces das convenções sociais.
Quer dizer, o homem com suas mais recônditas angústias, presa fácil das flutuações emocionais, pressentindo a vacuidade do fazer terreno, driblando o futuro e a morte.
No caso de Geraldo Alonso, tudo isso fortemente exacerbado e por sua personalidade marcante e um estilo de trabalho muito peculiar.
Tanto a vida como o trabalho ele impregnou de sua presença dinâmica, envolvente, por vezes brusca e lacônica, rude até – sempre com o propósito de realizar
as metas a que se propunha com energia inesgotável.
Nesse processo, espécie de rolo compressor, é natural, inevitável mesmo que ele tenha feito muita coisa mas nem sempre da forma mais ortodoxa – aquela esperada por familiares, amigos e pares na propaganda.
...
Acima de tudo, deixou, e disso o livro está cheio, várias lições, a principal delas: o fazer não requer só idealismo e imaginação; exige sobretudo coragem e desprendimento.
Geraldo Alonso se pecou, foi por excesso, nunca por omissão ou ausência, e nesse excesso está o material bruto para uma biografia.
Ao biógrafo, porém não cabe aparar as arestas de forma completa; apenas dar-lhes vida e cor.
Wladir Dupont
1991
Autor do livro Geraldo Alonso. O homem. O mito